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17.12.19

[Resenha] O morro dos ventos uivantes :: Emily Brontë

O morro dos ventos uivantes
Autor: Emily Brontë
Editora: Lua de papel
Páginas: 292
Na fazenda chamada Morro dos ventos uivantes nasce uma paíxão devastadora entre Heathcliff e Catherine, amigos de infância e cruelmente separados pelo destino. Mas a união do casal é mais forte do que qualquer tormenta: um amor proibido que deixará rastros de ira e vingança. "Meu amor por Heathcliff é como uma rocha eterna. Eu sou Heathcliff", diz a apaixonada Cathy.

Um novo inquilino chega à fazenda Morro dos ventos uivantes com o propósito de alugar a propriedade vizinha, Granja dos Tordos, e passar seus dias "distante da mundana agitação"; num lugar que segundo ele, trata-se de "um paraíso perfeito para misantropos". 

Assim começa a narrativa sobre uma família que vive isolada entre essas fazendas em algum lugar ao norte no interior da Inglaterra. O inquilino, já acordado com o proprietário dos dois domínios, o Sr. Heathcliff, e instalado em sua nova morada, ao se deparar com pessoas tão arrogantes e taciturnas se interessa pela história daquele lugar longínquo e das pessoas que ali vivem, solicitando à sua governanta a transmissão via oral desse conhecimento. 

De modo semelhante a Grande sertão: veredas, guardadas devidas proporções, nesta obra também há um narrador-personagem responsável por conduzir-nos às turbulentas relações passadas daquelas pessoas. A governanta da Granja dos Tordos, Ellen Dean, reconta todos os pormenores de uma história que se revela cada vez mais, conforme imergimos, moral e emocionalmente degradante. 

Essa estrutura narrativa que condiciona o leitor à mesma ignorância do inquilino que se quer ouvinte, é um modus operandi que carrega intrinsecamente incertezas a respeito dos fatos, haja vista a subjetividade do discurso em primeira pessoa. Ou seja, determina tão somente as sensações experienciadas pela governanta. Desse modo, somos conduzidos por uma maré de dúvidas e receios e, constantemente, forçados a reformularmos nossos julgamentos estéticos. 

Aqui, precipita-se a inconstante relação de Heathcliff e Catherine que servirá apenas como uma mola propulsora para toda a subsequente existência vivida em função dos sentimentos destrutivos do ser humano, isentos da hipocrisia de uma Inglaterra Vitoriana onde o puritanismo e os bons costumes tornaram a obra, para os críticos da época, imoral e blasfema. Ora, dá-se início então, a uma agitação, mesmo que de tal forma sôfrega, às vidas daquelas pessoas que habitam no isolamento monótono furtando-se de qualquer outro tipo de convívio, excetuando-se as gerações que se insinuam com o passar do tempo. 

Dessa forma, a natureza e os atos dos personagens são a todo momento questionados e a nossa própria noção de moralidade é confrontada ao nos depararmos sentenciando quaisquer consequências de suas ações. Tensão essa, aliás, muito bem trabalhada pela autora que não se limita ao chavão de um romantismo melancólico. O que me faz lamentar muito este ser o único romance escrito pela inglesa. 

Apesar da manchete do livro vender-se como uma história de amor interrompida, a obra não se esmorece e vai além; problematiza as relações tóxicas e hostis que se nos deparam no percurso da existência, inferindo a respeito da degradação da alma advinda de tais vínculos e a natureza humana em conflito com as contingências de relações abusivas. Um clássico que merece sempre ser revisitado. 

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3 comentários

  1. Tenho uma relação de amor e ódio por essa obra. Ao mesmo tempo que duvidamos da moralidade dos personagens, nos encantamos com a complexidade das relações humanas descritas. Emily escrevia com propriedade e era afiada como uma lâmina. Um grande clássico. Adorei sua resenha e considerações. Bjs

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    1. Acho que é justamente essa incerteza moral que é o grande charme do livro. Quem tá certo, quem tá errado? Depende do nosso julgamento. Obrigado pelo comentário. Beijos!

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