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31.7.19

[Resenha] Pssica :: Edyr Augusto

Pssica 
Autor: Edyr Augusto
Editora: Boitempo Editorial
Páginas: 92
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Uma adolescente é raptada no centro de Belém do Pará e vendida como escrava branca para casas de show e prostituição em Caiena. Um imigrante angolano vai parar em Curralinho, no Marajó, onde monta uma pequena mercearia, que é atacada por ratos d'água (ladrões que roubam mercadorias das embarcações, os piratas da Amazônia) e, em seguida, entra em uma busca frenética para vingar a esposa assassinada. Entre os assaltantes está um garoto que logo assumirá a chefia do grupo. Esses três personagens se encontram em Breves, outra cidade do Marajó, e depois voltam a estar próximos em Caiena, capital da Guiana Francesa, em uma vertiginosa jornada de sexo, roubo, garimpo, drogas e assassinatos.




Terminei este livro no final do ano passado, e logo em seguida escrevi esta resenha, assim, como o livro, rápido! E que melhor maneira de terminar um ano desgraçado do que com um livro desgraçado!? 

Pssica é o livro mais pesado que eu já li na vida. A sensação que eu tive ao lê-lo é de espancamento; como se um grupo de marginais me abordassem na rua e despejassem sobre mim socos e pontapés, enquanto procuro, inutilmente, me defender, ao chão em posição fetal. Bem, isso porque o livro é permeado de desgraças. Nauseante, sufocante, muitas vezes causando até mal-estar físico. A escrita de Edyr Augusto é um dos pontos altos que proporcionam tal desconforto. Isso se deve à forma como ele narra os acontecimentos e também pelos diálogos breves e diretos. Esses que, por sua vez, não são separados por travessão ou aspas como nos é comum, mas por pontos. Tal método faz com que façamos um esforço maior para imaginar a cena, tornando-a mais vívida, impactante. 


Guardada as devidas proporções, Pssica me remete ao absurdo kafkiano, aquilo que tira o indivíduo de sua zona de conforto e faz com que ele precise se reaver no mundo, interno e externo. Temos aqui, um pano de fundo sobre tráfico e escravidão sexual de mulheres brancas que são forçadas a fazerem coisas inimagináveis; tema que expõe uma realidade, à nós, distante, mas que existe. Contudo, o real objetivo do autor, como o próprio afirma, é escrever sobre pessoas; sobre como essa rede interminável de acontecimentos afeta suas vidas e seu psiquismo. 


Bebendo da mesma fonte de Kafka, a redenção dos personagens é sutil, até mesmo, supérflua. Não no que se refere somente aos danos psicológicos, mas principalmente, sobre o absurdo que segue existindo, dilacerante, arrastando tudo e todos a sua volta. Sem dúvidas, Pssica é um livro que merece todas as congratulações, é a literatura brasileira na sua forma mais crua e suja. Mas deixo o alerta: a leitura é acachapante! Não só me senti abatido em posição fetal como também, em determinados momentos, o fiz inconscientemente, impelido, impotente.

comentários pelo facebook:

2 comentários

  1. Oi Pedro,
    Achei sua resenha intensa, mas apesar de conseguir entender do que se trata o livro não consegui vislumbrar uma trama ou roteiro, personagens e tal... Pq além da trama o que me faz ler um livro e continuar lendo-o são os personagens.
    Eu não curto muito livros pesados assim.
    Abraço
    http://www.kelenvasconcelos.com.br/

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  2. Oi, Kelen. Agradeço seu comentário. Então, não foi o foco da resenha falar sobre a trama. Como o livro é curtíssimo achei melhor deixar o que é dito na sinopse mesmo (bem sucinto, é verdade). Procurei abordar os aspectos temáticos e não a trama em si ou os personagens; que é o que importa, de fato. Mas caso queira mais detalhes sobre, podemos conversar. Estou a disposição. Abraço!!

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