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30.8.19

[Resenha] Qual é a tua obra? :: Mario Sergio Cortella

Qual é a tua obra? 
Autor: Mario Sergio Cortella
Editora: Vozes Nobilis
Páginas: 141
Qual é a tua obra? É ser reconhecido? Desenvolver a capacidade de aprender sempre? Saber o significado da sua poiesis? Encontrar-se naquilo que faz? Enfrentar a jornada do herói? Saber que não sabe? Ser humilde? Aproveitar as oportunidades? Enfrentar o medo da mudança? Saber o tamanho que você tem dentro do planeta? Ter medo da satisfação? Saber lidar com a velocidade das mudanças? Combater o bom combate? Aprender a agir sem cautela imobilizadora nem ímpeto inconsequente? Administrar o tempo e distinguir o que é urgente do que é importante? Ser capaz de inspirar pessoas, projetos e situações? Enquanto líder, animar as pessoas a se sentirem integradas à obra? Ter capacidade de se reinventar, de buscar novos métodos e soluções? Ser ético, antiético ou aético? Ser íntegro?  Conseguir enxergar o outro como outro, e não como estranho? Ser ambicioso, mas não ganancioso? Distinguir  o que é essencial do que é fundamental?
Mario Sergio Cortella é filósofo, escritor, mestrado e doutorado em educação, professor titular da PUC-SP, palestrante, etc. Não vou colocar seu currículo inteiro aqui, pretendo não me estender nesta resenha. É importante ressaltar que todas estas provocações feitas na sinopse são temas de debate dentro da obra. De qualquer forma, as impressões que me causaram este livro são ambíguas. Eu gostei bastante, ao passo que também não gostei nada. E vou argumentar os porquês. 

O livro em questão trata-se de "inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética", como bem evidenciado na capa. A partir deste enunciado presume-se a qual público a obra é destinada; líderes, chefes, pessoas com cargos responsáveis por gerenciar outras pessoas. Não é um livro para um(a) auxiliar de produção, para um(a) faxineiro(a), etc. - sem atribuir juízo de valor a qualquer profissão - Esse é um ponto que me impressionou negativamente, já que, os argumentos utilizados pelo autor para defender sua ideia não podem se valer para todos. Como assim? Te explico: logo no primeiro capítulo sobre gestão, na epígrafe intitulada "Em busca de sentido", Cortella argumenta sobre a espiritualidade no mundo do trabalho, essa entendida como "a capacidade de olhar que as coisas não são um fim em si mesmas, que existem razões mais importantes do que o imediato", ou seja, enxergar sentido naquilo que se faz. Ele segue dizendo que a falta dessa espiritualidade no trabalho não é pelo trabalho em si, mas pelo tempo perdido nas grandes metrópoles, o tempo exagerado que se leva para se deslocar ao trabalho, devido à loucura do tráfego. Mas isso não necessariamente acontece, muitas vezes (na maioria delas, arrisco-me a dizer) o problema é o trabalho sim; é ter que aguentar aquele chefe tirânico, é acatar ordens irracionais simplesmente pelo prazer que ele tem de abusar do poder, é submeter-se a uma função completamente desgostosa, angustiante, que suga as energias por necessitar da renda e não haver outra opção. Ainda nem preciso comentar a desigualdade em que vivemos e o mito da meritocracia que alguns fomentam facebook afora. Como o próprio Cortella afirma já no final do livro, não podemos anestesiar a nossa consciência e achar que tudo é normal e que as coisas são como são.         

Enfim, o livro é repleto dessas generalizações e eu citei apenas uma; é destinado a um público em específico, o que acaba invalidando muitos argumentos usados pelo autor. Além disso, a obra é muito contaminada por repetições. Uma ideia trabalhada num texto anterior é repetida no próximo, o que me leva a crer que muitas epígrafes poderiam ser excluídas, podendo até mesmo auxiliar na sua fluidez. 

Por outro lado, e nesse momento reside as ambiguidades que me foram suscitadas, Cortella levanta diversas reflexões e referências que nos incitam a pensar, de maneira muito acessível e bastante inteligível. Referências essas de filósofos e escritores que, quando lidos diretamente, serão dificilmente entendidos e exigirão uma bagagem de leitura muito grande por parte do leitor. Como por exemplo, na epígrafe "Os outros em nós mesmos", em que ele preconiza uma visão de alteridade que se faz imprescindível nas relações humanas e consequentemente auxilia numa coletividade que se reflete, também, no mundo corporativo/organizacional, onde ele cita um teólogo brasileiro chamado Leonardo Boff. Ora, esta epígrafe se encontra no capítulo sobre Ética, o que, no meu entender é o único que escapa às inconsistências relatadas no parágrafo acima. Muito em função do próprio tema. Aqui, ele debate com maestria as vicissitudes do ser ético e é o capítulo que eu recomendo a você, que assim como eu, não é e nem pretende ser um gestor. - Veja, não se deixe enganar pelo título e sinopse! -  Mas ler apenas um capítulo é inviável pelo capital investido no livro, dessa forma, recomendo gastar com outras obras que certamente lhe acrescentarão mais. 

Contudo, à você que almeja ser um gestor, chefe ou líder esse livro é sem dúvidas essencial, e cumpre muito bem o papel de "auto ajuda empresarial"; até para que você não se torne um chefe tirânico e arrogante como muitos por ai. 

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