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16.8.20

[RESENHA] O amor nos tempos do ouro :: Marina Carvalho

O amor nos tempos do ouro
Autor: Marina Carvalho
Editora: Globo Alt
Páginas: 328

Ambientado no século XVIII, o novo livro da mineira Marina Carvalho é uma história de amor ousada e tocante que se passa durante o período colonial no Brasil, resultado de meses de pesquisa por parte da autora, que se declara fã de História. Cécile Lavigne é uma jovem que nasceu em uma família de nobres, filha de uma portuguesa de Coimbra, pertencente à Casa de Bragança, e de Antoine Lavigne, aristocrata francês de mente liberal e dono de uma riqueza imensurável. Após um acidente, a garota perde os pais e os dois irmãos e, antes de completar 20 anos, é enviada ao Brasil pelo único parente que lhe restou, o ambicioso tio Euzébio, para casar-se com um latifundiário de Minas Gerais. Depois de desembarcar no Rio de Janeiro, Cécile sente-se angustiada pela falta da família e teme o futuro que terá ao lado de um homem que tem idade para ser seu pai e é conhecido por suas crueldades com seus escravos. Porém, o trajeto entre o Rio e Minas promete mudar o destino da garota: o explorador Fernão, contratado pelo seu futuro marido para acompanhá-la na viagem, despertará nela sentimentos de aversão e de desejo. Enquanto aguarda o temido casamento arranjado, Cécile vai descobrir os encantos e perigos que existem na nova terra e os sentimentos mais nobres que vivem dentro de si. Com o cuidado precioso com a linguagem, que é característico dos romances de Marina Carvalho, e construindo de forma detalhada cada um dos personagens, bem como o cenário e o contexto social da época, O amor nos tempos do ouro apresenta um enredo sedutor, cativante e que serve como espelho para os anseios dos jovens contemporâneos que estão prestes a chegar à fase adulta.
Pra aqueles que adoram História e livros com boas tramas românticas essa é a pedida perfeita. Esse livro da autora Marina Carvalho, famosa por outras obras de gênero juvenil, narra dessa vez a história da personagem Cécile, fruto do casamento de um português e de uma francesa, a moça cresce na França do século XVIII e antes de completar a maioridade perde os pais e os irmãos mais novos, ficando órfã e desolada. Agora seu parente mais próximo, seu tio Euzébio, é um homem interesseiro e mau caráter que para tomar posse da herança da sobrinha decide entrega-la em casamento para um senhor de escravos no Brasil, Euclides de Andrade. E dessa forma os dois compartilharem da herança da moça.

Contra a gosto, Cécile parte para as terras americanas e desconhecidas, intensamente deprimida com seu destino de casar-se com um homem que nunca vira na vida. Ela parte em uma viagem pelo oceano cheio de perigos, e ao chegar na Colônia portuguesa a moça precisa ser escoltada em segurança até a fazenda de seu noivo em Minas Gerais. Euclides encarrega um homem de sua confiança para tal missão, chamado Fernão. Um caçador de minas de ouro que trabalha para vários homens importantes de Minas Gerais, tratando de negócios sujos em troca de dinheiro.

No meio da viagem, Fernão e Cécile trocam farpas devido as diferenças. Para Cécile, Fernão é um homem rústico e mal-educado. E para Fernão, Cécile é uma moça mimada e irritante. Mesmo com as más impressões, os dois acabam se apaixonando e terão de enfrentar os planos do poderoso e cruel Euclides de Andrade. A trama segue a linha dos típicos romances de época, onde dois gênios opostos se atraem, mas precisam confrontar os costumes e leis de uma sociedade hipócrita, desigual e aristocrata. 

O que difere este livro de outras obras do gênero é o ambiente de fundo, caracterizado pela vida no Brasil colonial. Dando vida a Minas Gerais em sua maior ascensão: durante a exploração das minas de pedras preciosas pelos portugueses. Um dos pontos mais interessantes do livro é ele retratar de maneira verossímil esse triste e marcante momento da história brasileira. Gostei muito da forma como a autora demonstrou pesquisar bem sobre os fatos históricos e soube muito bem como encaixar as tramas fictícias aos acontecimentos reais da época.

Para aqueles que também são amantes dos clássicos da literatura brasileira, ao longo dos capítulos temos várias referências à famosos poemas da geração romântica. Encontramos também várias críticas perante  a realidade da sociedade escravocrata em que a trama se desenrola, chamando atenção para os personagens secundários: os escravos Hasan, Malikah e Akin. Os protagonistas Cécile e Fernão merecem destaque na trama apresentando um romance cheio de paixão e juras de amor. Na maior parte do tempo o livro é narrado em terceira pessoa, e em outros momentos, ora é narrado por Cécile em seu diário íntimo, e ora narrado pelas cartas apaixonadas de Fernão. 
"Mi iyaafin, Observo-te enquanto dormes e tu não calculas o sacrifício que faço para não me aconchegar a ti e confessar o que não tenho coragem de dizer. Um homem como eu, bruto, rústico, sem berço, não deveria amar uma dama. É contra a ordem natural da vida. Não posso lançar a verdade sobre ti porque sei que isso te magoaria. Tu queres ser livre, queres a chance de viver perto dos teus, não enfurnada em uma propriedade distante de tudo, sem o brilho das grandes cidades. (..) Perdoa-me, embora eu saiba que tu jamais lerás estas palavras bobas. Os tambores, o calor da noite e a aguardente deixaram-me tolo. Que nada! É mais honesto assumir: tu, somente tu, tens o privilégio de transformar-me em um bocó, dos mais apaixonados. E que o céu tenha piedade da minha alma no fim dos tempos, por eu amar-te tanto assim. Teu Fernão."
Outro ponto positivo do livro é a escrita bastante convincente da autora, que utiliza uma linguagem característico da épocas, uma escrita formal, mas nada rebuscada demais. Pelo contrário, a autora escreve de maneira envolvente e a história fluí de maneira fácil. Não pude deixar de desejar enquanto me deliciava com o livro que houvesse uma adaptação da obra para um filme ou uma série da Globo, como a série de época "O tempo e o Vento". Recomendo muito esse romance leve e adorável para todos os leitores românticos que também desejam valorizar nossos autores nacionais.

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