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19.8.19

[Resenha] A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões :: Louise O'Neill


A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões
Autora: Louise O'Neill
Editora: Darkside Books
Páginas: 224
Esqueça as histórias sobre sereias que você conhece. Esta é uma história diferente — e necessária. E tudo começa no fundo do mar. Com uma garota chamada Gaia, que sonha em ser livre de seu pai controlador, fugir de um casamento arranjado e descobrir o que realmente aconteceu à sua mãe desaparecida. Em seu aniversário de quinze anos, quando finalmente sobe à superfície para conhecer o mundo de cima, Gaia avista um rapaz em um naufrágio e se convence de que precisa conhecê-lo. Mas do que ela precisa abrir mão para transformar seu sonho em realidade? E será que vale a pena? A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões chega para trazer um pouco mais de contos de fadas para a linha DarkLove, da DarkSide Books. Mas não do jeito que você espera; aqui, a história original de Hans Christian Andersen — e também suas versões coloridas e afáveis em desenhos animados — é reimaginada através de lentes feministas e ambientada em um mundo aquático em que mulheres são silenciadas diariamente — um mundo que não difere tanto assim da sociedade em que vivemos. No reino de ilusões comandado pelo Rei dos Mares, as sereias não recebem educação, não têm direito de fala, devem se encaixar em um padrão de beleza impossível e sempre sorrir. É neste cenário que a autora irlandesa Louise O’Neill apresenta uma história sobre empoderamento e força feminina. Com narrativa e olhar afiados, a autora ainda desenvolve aspectos do conto original que passaram batido, como o relacionamento de Gaia com as irmãs e as camadas complexas da Bruxa do Mar. A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões, que chega ao mundo acima da superfície da água com o padrão de qualidade que virou marca registrada da DarkSide Books, mostra como, em um reino comandado pelo patriarcado, ter uma voz é arriscado. Mas também como querer usá-la é uma atitude extremamente poderosa e valiosa. Ainda mais em tempos tão sombrios.

A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões é exatamente o que promete ser: um retelling do clássico A Pequena Sereia. Com algumas mudanças na história original - e, vamos ser sinceros, essa capa de arregalar o olho de tão linda - a narrativa continua seguindo exatamente o clássico que já conhecemos de quando éramos pequenos.

Uma pitada de amor instantâneo faz com que uma sereia se apaixone por um humano e fique tentada a cometer uma das maiores heresias: pedir ajuda para a Bruxa dos Mares para conseguir pernas e ir atrás de seu grande amor.

"Uma mulher precisa ser forte para sobreviver."

Eu fui esperando um livro repleto de mensagens fortes de machismo e de empoderamento feminino. Quando comecei a ler, me senti um pouco desconfortável com a forma que a leitura foi tomando, mas me neguei a aceitar que eu pudesse não gostar tanto assim da leitura. No fim, fico muito triste em dizer que não teve jeito, não virei fã desse livro.

Sinto que a autora usou muitas frases fortes que deveriam ter um impacto assustador sobre o como mulheres não apenas são vistas, mas como também se enxergam dentro da sociedade. Porém, toda a essência dessas frases fica perdida por conta de um exagero no uso. Acho que a autora perdeu um pouco a mão nos clichês e fez uma personagem que, no final do dia, "morreu na praia" (se você é familiarizado com o conto original da Pequena Sereia, essa não foi uma piada intencional haha).

A personagem principal, Muirgen, que também é referenciada no livro como Gaia, o nome que sua mãe originalmente havia escolhido para a pequena sereia (veja aqui mais uma referência feminista que poderia ter se tornado fantástica), é bastante fraca e, por diversas vezes, submissa. 

"Por favor, tire suas mãos de mim, tenho vontade de dizer, mas sei que o corpo de uma mulher sempre pode ser tocado se outros assim o desejarem. Eu sou abençoada por atrair tanta atenção. Todo mundo diz isso, então deve ser verdade."

Outra coisa que me incomodou, e eu atrelo isso ao exagero que havia comentado anteriormente que eu, particularmente, não sou muito fã: nenhum dos homens desse livro é um personagem decente.   O personagem que representa o príncipe, inclusive, é tão revoltante que eu não conseguia encontrar nenhum motivo para que Gaia continuasse tentada a batalhar para ficar com ele. Entendo a autora talvez usar desse artifício propositalmente para chocar os leitores, mas para mim ficou um pouco demais.

O grande problema disso tudo é que, usando muito de exageros, todos os personagens dela se tornaram muito unidimensionais. Não há, de verdade, um desenvolvimento ou crescimento de nenhum dos personagens do livro e eles acabam ficando um pouco desmotivadores.

Por um outro lado completamente diferente, se você está sim procurando um livro que trabalhe especificamente esse lado de chocar a sociedade com o machismo avassalador que ela produz, essa narrativa é ótima para você. E também para a sua prateleira, devo dizer, já que a edição da Darkside é um dos grandes pontos altos desse livro.

Ele possui capa dura e a frente dele tem também alguns brilhos e glitters colados que te transportam automaticamente a esse lugar lindo e místico no meio dos mares com várias pérolas preciosas e muitas sereias. As laterais das páginas são coloridas em um degradê que orna com a capa e também com as folhas de rosto, que tem um padrão da cauda das sereias.

É um livro que vai continuar na minha prateleira - mais por ser bonito do que por eu ter gostado - mas que eu também entendo que tem seus méritos. Meu grande problema com ele foi ele ter tomado essa veia mais pessimista do que empoderadora. 

Se você tem algum interesse em um retelling da Pequena Sereia que tenha um viés um pouco mais feminista e que trabalhe personagens de uma forma mais profunda, eu recomendo muito To Kill a Kingdom, da Alexandra Christo. O livro ainda não tem tradução mas eu prometo que vai valer a leitura.

E vocês, alguém já leu esse livro e tem uma opinião diferente da minha?

comentários pelo facebook:

2 comentários

  1. Olá, Bruna!
    Eu já havia visto a capa desse livro e por ela deduzi que poderia ser uma releitura de a pequena sereia. Enfim, uma pena a obra não ter te agradado, acredito que os fatores que você citou muito provavelmente causariam o mesmo efeito em mim. Mesmo tem achado a vão linda e com os outros pontos positivos que você apresentou não fiquei atraída pela obra. Obrigada pela resenha e por me apresentar a essa obra. Ademais, a darkside tem edições incríveis e fiquei curiosa para ver esse livro nas minhas mãos, rs.
    Beijos

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  2. Oi Bruna, tudo bem com você? Quando a editora lançou esse livro, confesso que primeiro me apaixonei pela capa e depois é que fui tentar descobrir do que se tratava rs. Uma pena que apesar de ser lindo, a leitura em si deixou a desejar.
    Beijos

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