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28.11.17

[Resenha] Ninguém Nasce Herói :: Eric Novello




Ninguém Nasce Herói
Autor: Eric Novello
Editora: Seguinte
Páginas: 376
Num futuro em que o Brasil é liderado por um fundamentalista religioso, o Escolhido, o simples ato de distribuir livros na rua é visto como rebeldia. Esse foi o jeito que Chuvisco encontrou para resistir e tentar mudar a sua realidade, um pouquinho que seja: ele e os amigos entregam exemplares proibidos pelo governo a quem passa pela praça Roosevelt, no centro de São Paulo, sempre atentos para o caso de algum policial aparecer. Outro perigo que precisam enfrentar enquanto tentam viver sua juventude são as milícias urbanas, como a Guarda Branca: seus integrantes perseguem diversas minorias, incentivados pelo governo. É esse grupo que Chuvisco encontra espancando um garoto nos arredores da rua Augusta. A situação obriga o jovem a agir como um verdadeiro super-herói para tentar ajudá-lo — e esse é só o começo. Aos poucos, Chuvisco percebe que terá de fazer mais do que apenas distribuir livros se quiser mudar seu futuro e o do país.
Uma distopia brasileira. Inovador? Talvez, se analisarmos a situação atual do Brasil e tentar inserir o país em uma ficção à lá Jogos Vorazes.

Ninguém Nasce Herói é um retrato completo do país dominado por um governo hipócrita cuja finalidade se resume em dizer que a defesa da sociedade é perfeita. Enquanto o Escolhido, presidente no cenário criado por Eric Novello, alega defender as minorias e garantir direitos a esse grupo, uma força militar opressora vem agindo na grande São Paulo de uma data indefinida, no futuro. A força armada visa negros, mulheres, LGBTs e pessoas com ideologias diferentes, além daquelas que se impõem ao governo e à religião cristã.

Chuvisco é um jovem que sempre passou por situações nas quais se sentiu pressionado pela sociedade preconceituosa. Desde comentários dos próprios pais aos amigos negros do garoto às falas dos pastores nas igrejas, Chuvisco se vê impelido a lutar por classes dominadas. Com um canal no YouTube, ele tenta acalmar os que necessitam de ajuda, além de se ajudar, pois, se sentindo só, passou a criar personagens e vivenciar conflitos heroicos em sua própria cabeça.

Contudo, agora, com um grupo de amigos, Chuvisco tenta participar de manifestações contra o Escolhido e seu falso Pacto de Convivência. O rapaz também deseja se aliar ao grupo secreto Santa Muerte, representado pelo crânio colorido mexicano. Mas ele não contava que seus planos poderiam ir por água abaixo ao ficar obcecado por um jovem transsexual que cruza seu caminho. 

Eric Novello é autor de "Exorcismos, amores e uma dose de blues", "Neon Azul" e "Dante, o guardião da morte"

Em uma linguagem rápida e simples, bastante moderna, Eric Novello conquista os leitores e convence com os propósitos dos personagens. Entretanto, vale ressaltar que, logo de cara, muitos personagens são apresentados, o que pode causar confusão. Porém, o autor brinca com as cenas, inserindo uns personagens em uma, outros em outra cena, e por aí vai, de modo que fica fácil se aprofundar na vida de cada um de acordo com o ponto de vista do protagonista. 

O protagonista. Ele não é um problema para o livro, nem tão raso assim, mas Chuvisco é o típico principal que só serve para narrar a história. Mesmo com tudo acontecendo à sua volta, não se nota destaque tão relevante no rapaz. Ao invés disso, Novello foca muito mais nas ações movidas pelas emoções de Chuvisco do que aquelas que o leitor gostaria que fossem mudadas pelo jovem. 

É possível, também, perceber a ligação de Ninguém Nasce Herói com "Capitães da Areia", de Jorge Amado. Primeiro, temos uma profusão de personagens jovens vivendo sob opressão. Depois, há o fato de que eles são movidos por paixões e pensamentos corriqueiros, onde acham que são donos do mundo. Por fim, falando da narração, Eric se compara à Amado nas trocas de cenas de um capítulo para o outro. Não há sequência correta de tempo. Um capítulo é concluído, o outro se passa dias depois, ou antes, e nunca no mesmo instante em que o anterior. 

O livro não possui um final definido, tendo seu clímax cortado abruptamente, coisa que não me agradou. Além disso, a batalha crucial da trama, minoria contra o governo, não foi bem explorada, o que não é de todo ruim, já que o mesmo acontece em "1984", de George Owell. Isso só instiga a curiosidade do leitor. 

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