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7.1.20

[Meus Devaneios] Me chamo Amora


macro shot photography of tree during daytime

Havia uma amoreira naquele quintal... - Ela havia dito enquanto costurava pequenos bordados em panos de pratos, os quais ela insistia em bordar várias rosas com um pequeno defeito: Em cada uma faltava uma pétala. E eu insistia em ficar intrigada com isso, afinal onde já se viu criar uma rosa tão peculiar? Era muito estranho olha-la, tentar aprecia-la mas ao mesmo tempo me imaginava aconchegada nas poucas pétalas restantes como uma pequena gota d'água ficaria. Ela olhou fixamente em meus olhos e isso fez com que eu desviasse o olhar dos bordados; seus olhos eram perfeitamente pretos, tão, mais tão pretos que era possível perder-se em seu olhar e talvez nunca mais se encontrar.

Desviei-me. Levantei da cadeira um pouco tonta. No passado talvez riríamos disso juntas e ela diria: "Ah meu Pai! Como você é tonta garota, já te disse para não focar em nada dessa forma. Ou quer ficar cega?" E riríamos abruptamente como se tudo e nada mais tivesse seriedade; mas, hoje eu sei que isso não iria acontecer e comprovei logo depois de me levantar completamente tonta.

Encostei em uma parede e ela virou o rosto e disse: "Quando  eu era pequena gostava das amoras daquela amoreira, eram tão vermelhas, mas tão vermelhas que as vezes quando eu as olhava a vida perdia o sentido, tudo a minha volta perdia cor por um minuto; era como se aquela pequena fruta roubasse tudo de mim. Mas não! Como ela iria roubar algo vazio?"

Ela voltou para o bordado rapidamente, antes mesmo que eu dissesse qualquer coisa, antes até que eu respirasse. Era como se eu não estivesse ali. E será mesmo que estava? Será que estávamos ali? Essa versão tão grotesca daquilo que fomos no passado; dos nossos risos. Da nossa cumplicidade. De todas as lições que ela havia me dado e de todas as reclamações que eu havia feito. Quem éramos nós? Ela me encarou novamente com seus olhos de jabuticaba e disse: "Ah, mocinha quem é você mesmo? Bom, deixa pra lá só diga para a moça da limpeza que ela não deve tirar minhas rosas do vaso viu?!"

Eu não disse nada, já não éramos quem nós um dia fomos... Ah vozinha se você apenas lembrasse que me chamo Amora, meu coração ficaria mais vermelho.


Por: Jennifer Valverde, escrito em 18/12/2019
Gostou da história? Atualmente estou escrevendo um livro pelo Wattpad: Dois Amores Acima do Tempo

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4 comentários

  1. Que texto lindo e tocante, Jennifer!
    Estou ansiosa para acompanhar mais textos autorais seus.
    Bejos

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  2. Oi Jennifer.

    Seu texto foi muito bacana de ler. Ele faz parte do seu livro que está no Wattpad? Depois vou fazer uma visita no site para conferir.

    Bjos

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    Respostas
    1. Olá Kênia!
      Obrigada, que bom que gostou. ^-^
      Então essa crônica ela não está vinculada a esse projeto do Wattpad, lá é uma outra história. Mas, eu ficaria contente que você fosse lá ler também! :)

      Bjs

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