Tento me manter positivo a despeito das desgraças que em nós ultimamente impera. É um exercício e tanto levando em conta que os dias que se passam não nos oferecem muitas esperanças - e olha que pouco vejo telejornais - e o prognóstico é duvidoso. A falta de rotina, e por rotina me refiro a compromissos funcionais como trabalho, reuniões e escola, é uma das condições que mais descaracterizam o ser humano. A ideia de ter algo para fazer mesmo a contragosto é o que motiva alguém a acordar todos os dias às 5:00 da manhã.
Nesse ínterim vejo minha mãe chegar do trabalho - ela é cobradora de pedágio e claro, não para - trocamos algumas palavras mas não muitas porque logo perco a paciência com algo e discutimos. O isolamento me roubou a serenidade e a calma. E cada um se isola dentro dos poucos cômodos do apartamento. Ela a dormir cedo, eu a buscar por algo que me entorpeça. Hoje recebi a notícia de um jovem conhecido morto em um acidente de moto. E da pior maneira possível: com fotos suas debulhado no chão a navegar internet adentro. E dói. Dói a cabeça, cada vez mais frequente por motivos completamente desconhecidos. Dói pensar. Escrever dói. E por que escrevo? Me perguntaram. E por que você vive? Eu devolvi.
Me sinto encarcerado como se pagando por um crime que sei que não cometi. Tão fácil me enxergo num enredo kafkiano, buscando respostas, sentidos e resgatar uma vida aparentemente longínqua de prazeres e afetos à procura de minha humanidade furtada por mãos invisíveis. A vida imita a arte ou a arte imita a vida? No meu estado de espírito atual fico com a segunda opção. E sei que quando esse momento passar continuaremos a vivê-lo através de músicas, pinturas e livros. Como em A dança da morte do King. A arte imitando a vida. Ás vezes só me resta olhar as estrelas através da janela. Todas muito distantes e ao mesmo tempo tão próximas. Assim como aqueles dias em que eu reclamava do trabalho monótono, das aulas de epistemologia tediosas e o vazio do domingo que me alerta da iminente segunda feira quando começa o domingão do Faustão.
Nossa migo, foi como um tapa esse texto viu? Eu o li e foi tão o momento que estamos vivendo, foi tão espelhado que eu quis chegar e falar "Hey, tô aqui se precisar mesmo que eu esteja meio capengando também hahaha!"
ResponderExcluirEnfim, parabéns e força pra gente.
Pedro, que texto maravilhoso! "Dói pensar. Escrever dói. E por que escrevo? Me perguntaram. E por que você vive? Eu devolvi." Essa parte foi como um soco para mim, a escrita por vezes é mais que uma escapatória em nossas vidas.
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